quinta-feira, 1 de julho de 2010

Os Olhos Que Não Vêem

Olhamos vezes sem conta para as nossas mãos, mas não olhamos com olhos de ver. Não vemos quantos risquinhos elas têm, não olhamos para os espaços vazios, não vemos as rugas que nos surgem, não nos sentimos tentados a descobrir o que são as entranhas das unhas, apenas olhamos para as futilidades, para o superficial e deixamos as histórias e vivências entre os dedos.
As mãos  foram concebidas para sentir, para sentir o que os olhos não vêem, o que ao coração não chega.
E como se fala em mãos, fala-se em olhos e em boca, fala-se em sentir, viver e reviver. E até pode parecer  que não há relação nenhuma entre sentimentos e o corpo humano, mas há, ele é o fio condutor que ilumina a nossa capacidade de viver e quando não há energia que justifique a existência do fio condutor, nós, o ser, somos invadidos por uma "amnésia corporal" onde só perdura o sentimento e é ele que se funde na fonte de viver, no recurso de sobrevivência que todos tentamos alcançar.
E o tempo vai passando, os sentimentos vão mudando e o nosso "eu" vai-se confundindo com as cores do Outono, com a brisa da maresia, porque no fundo, com o passar do tempo tornámo-nos camaleões da vida e somos arrastados por ela como grãozinhos de areia numa tempestade tropical.

1 comentário: