quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Sussurros de dor

Dói, dói tanto! Já dói á mais de uma hora, já dói á mais de um dia e esta dor não cessa, apenas corrói a esperança de um dia conseguir encher o peito de ar, de um dia o pássaro ganhar asas e voar.
Foi tudo tão real, foi tudo tão vivido de maneira tão intensa que se tornou numa mancha de gordura que caiu no vestido.
É triste quando as lindas histórias de amor acabam assim, e pior que um vestido manchado é um coração estragado.
Foram dias e dias a lutar por nós, pela nossa relação amorosa, que pensando bem talvez já nem fosse tão amorosa quanto isso. Talvez fosse mais uma ligação temporal, uma ligação que se fortaleceu com o passar do tempo ao lado dele.
Sim é irónico, o facto de dar-mos tanto a um outro alguém, de partilhar-mos tanto, de nos entregar-mos totalmente e depois no fim de tudo, isso não valer de nada e nem sequer ser um pretexto, um motivo para não o deixar partir.
E é assim que o fim de tudo começa.
Abre-se uma porta, desocupa-se a casa, ele sai e nós ficamos deitadas a chorar, com a esperança de que ele repare que não está a fazer o melhor para os dois, como pensa, está sim a fazer o melhor por ele, está a estragar os sonhos de alguém, a felicidade de alguém, a deitar fora pela janela uma compilação de melhores momentos da vida a dois, só porque “é o melhor neste momento”.
E passado alguns minutos já não está lá, já só se ouvem os barulhos do exterior, e uns soluços sem parar no quarto. Saiu, fechou o nosso coração, encheu-nos de tristeza e sem esperança naquele quarto que ainda tem o seu odor, que ainda sente o seu respirar e ainda ouve a sua voz.
Acabou-se a vida a dois, começou cada um por si, ou não, talvez ele até tenha outra á espera dele, talvez ele até tenha muitas, a cabeça começa a encher-se de ideias que apertam ainda mais o coração já quase desfeito.
E agora eu aqui deitada na cama, relembro todos os momentos que passamos juntos, as discussões por nada que tínhamos todos os dias, de manha, ao meio dia, e casualmente á noite. De facto a noite era o melhor momento do nosso dia. Era quando tudo acontecia, quando havia tempo para nós, quando estávamos inteiramente juntos, sem pressas para nada, apenas eu ele e a noite.
As nossas fantasias, os nossos segredos, a nossa intimidade, ai a nossa intimidade! Essa estava toda ali, muitas vezes disfarçada de gata, de bailarina do que fosse, era só ele sonhar e tinha sempre tudo quanto queria.
Não posso dizer que muitas vezes não errei, errei sim, errar é humano e faz parte, mas talvez os meus erros alimentaram ainda mais o algo que ele não tinha, o algo que ele procurava.
As pessoas ao meu redor, uma ínfima parte que me tenta acordar para um novo “eu”, acredita que talvez tenha sido mesmo melhor assim, mas essas pessoas não compreendem quanta falta ele me faz, quanto arrasada estou por dentro, e nem que fosse por um bocadinho, eu ia quere-lo sempre de volta.
Um toque, um beijo, uma carícia, um abraço, apenas e só isso. Queria por breves momentos sentir aquele quentinho no coração, esboçar aquele sorriso nos lábios, viver a felicidade outra vez.
Coitadinha, pensam muitos, vadia, pensam outros, parva, penso eu. Sei que carrego comigo a culpa da sua partida, sei que fui eu que falhei, era eu quem deveria ter dado mais de mim porque ele já era perfeito da maneira que era.
Apesar de ouvir que é bom estar assim, “livre”, que eu não tenho culpa e que ele é um cobarde, que tinha que acontecer isso porque o destinos está traçado, eu não mudo as minhas ideias e pior que isso eu não toco nos meus sentimentos, que neste momento estão tão feridos que apenas um toque iria ferir ainda mais.
O amor é estranho, é forte, o amor dói.
Só quem nunca amou é que não sabe o quanto o amor dói, só quem nunca sentiu arrepios no peito é que não sente um aperto quando algo parece estar menos bem.

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